sábado, 20 de junho de 2015

MAcchiNa

Se achar interessante, experimente ler o artigo e ouvir esta música ao mesmo tempo...


trecho:
(...)
Podemos então imaginar que o olhar de La Mettrie tenha se detido em algumas passagens, notadamente aquela em que Descartes afirma, referindo-se ao corpo, que:

“[...] nessa Máquina, todas as funções decorrem da simples disposição de seus órgãos, como os movimentos de um relógio, ou de outro autômato, que decorrem de seus contrapesos e de suas polias; de maneira que não é preciso conceber outro princípio de movimento e de vida que não sejam seu sangue e seus espíritos, agitados pelo calor do fogo que queima continuamente em seu coração...”16.
La Mettrie parafraseia Descartes, tomando em- prestado a imagem da máquina, mas insistindo sobre a importância da fisiologia nesse mecanis- mo. Assim, escreve, por sua vez, que “[...] o corpo humano é uma máquina que dá a si mesma corda em suas engrenagens; imagem viva do movimento perpétuo [...] um relógio, cujo relojoeiro é o novo Quilo”17.
Na Descrição do corpo humano de Descartes lê-se ainda que:
“[...] a disposição dos órgãos (é) em si suficiente para produzir em nós todos os movimentos [...] por isso tentarei provar aqui, & explicar tão bem a máquina de nosso corpo, que não teremos mais razão de pensar que é nossa alma que excita nele os movimentos...”18.
Desenvolvendo o germe dessa ideia de autosu- ficiência do corpo-máquina cartesiano, La Mettrie escreve no Homem-máquina:

“O corpo humano é um relógio, mas imenso, e construído com tanto artifício e habilidade, que se a roda que serve para marcar os segundos vem a parar; aquela dos minutos não para de girar [...] Pois, não é deste modo que a obstru- ção de alguns vasos19 não basta para destruir, ou suspender o essencial do movimento que está no coração, como na peça operadora de uma máquina”20.

(...)