2024
"Por isso melhor se guarda o voo de um pássaroDo que um pássaro sem voos" (Antonio Cicero)
Um ano denso e intenso. Muitas coisas aconteceram. Muitas alegrias, muitos desafios e uma pitada de tristezas também. Aquele filme que as memórias trazem, projeta agora imagens carregadas de várias tonalidades. Dias de paz, dias d’além mar, dias marejados e dias maravilhosamente coloridos. Teve de um tudo esse ano...
Foi o terceiro ano do doutorado em Educação. Para além de dizer que estou cursando o doutorado, prefiro dizer que estou vivendo intensamente o doutorado. Tenho estudado documentários autobiográficos com uma abordagem interdisciplinar, propondo articulações entre audiovisual, arquivos e educação. Viver o doutorado é viver uma etapa muito desejada de um objetivo que tracei lá em 2013, no segundo ano de minha graduação em Gestão de Políticas Públicas na USP, pois foi naquele momento/ movimento de minha vida que entendi que seria possível aprofundar os estudos nesse nível e atrelar essa profundidade a meus movimentos profissionais. Em minha família poucas pessoas conseguiram terminar a graduação. Para mim, finalizar a graduação e seguir a vida acadêmica adiante tem sido ao mesmo tempo um sonho, um desafio e ao mesmo tempo algo fluído e também coerente com aquilo que gosto, que me faz bem, pois gosto muito de estudar, pesquisar, escrever, ensinar: esse “combo”, no qual a educação nos insere e do qual cada vez mais me vejo como uma pessoa que faz parte dele e que deseja construir melhorias que impactem positivamente as vidas das pessoas.
Por isso, mesmo com dificuldades, tendo em vista a quantidade de coisas que faço cotidianamente, mantenho-me em sala de aula, sigo a trabalhar como professora na ETEC Cepam (uma escola da qual gosto tanto e que faz parte de minha história), com apenas um componente curricular (é o que consigo no momento), mas vivenciando essa experiência de ensino e aprendizagem com uma turma de ensino médio a cada ano, turmas de terceiros anos, aquele momento da vida em que o sonho de uma carreira, atrelado à decisão do vestibular, às emoções da adolescência e à necessidade de finalizar o ensino médio são questões que estão ali, vívidas e celeremente presente naqueles 365 dias da vida daqueles jovens. É bonito ter a oportunidade de participar disso...
Falando um pouco mais do doutorado, esse ano foi realmente muito importante. É um privilégio que a oportunidade de viver essa etapa formativa esteja ocorrendo desta maneira, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS) e compartilhando essa vivência com a professora Fabiana de Amorim Marcello, uma mulher inteligente, visionária e que tanto me incentiva a olhar além e a ampliar meus horizontes, constantemente me desafiando a melhorar as entregas, a ter um olhar mais perspicaz para as coisas que penso e escrevo, fazendo dessa experiência uma composição coletiva entre orientadora e orientanda que é ao mesmo tempo carinhosa, atenciosa e carregada de aprendizados contínuos. Enfrentamos, cada uma a seu tempo: tragédias, desafios profissionais e emocionais, os quais não apenas ocorreram paralelamente à tese, mas, de outro modo, amalgamaram-se a esse processo. Viver o doutorado tem sido algo profundo, desafiador e posso dizer que a parceria com a Fabiana tem tornada essa experiência muito viva e especial.
Em 2024 aconteceu minha qualificação no doutorado, uma etapa muito importante do processo. Também me inscrevi em cinco bolsas de estudo internacionais e fui contemplada em duas. Em outubro tive a oportunidade de vivenciar a primeira delas, fui para Lisboa realizar um período de 1 mês de formação na Universidade NOVA de Lisboa com financiamento da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Também fui aprovada para o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) para dar continuidade a este trabalho de aprofundamento e intercâmbio por mais um mês, em fevereiro de 2025. Nos dois períodos, as atividades estão sendo desenvolvidas sob a supervisão da Professora Susana Viegas, coordenadora do projeto Film and Death: Film-philosophy as a meditation on death (A filosofia do cinema como meditação sobre a morte).
Esse período de capacitação em Lisboa significou uma oportunidade extremamente valiosa para a pesquisa, para minha vida e para o trabalho de pesquisa que tenho construído ao longo dos anos. Desde os primeiros contatos, ainda na submissão do projeto, a professora Susana acolheu a proposta e aceitou gentilmente me receber. Ela e toda equipe do projeto Film and Death foram extremamente atenciosos e ajudaram muito comentando e trazendo contribuições. E, da mesma maneira, busquei compartilhar experiências e referências com o grupo. A apresentação da pesquisa em formato de seminário aberto ao público no dia 30/10 na Universidade NOVA de Lisboa foi um dos resultados desse primeiro período de mobilidade e me permitiu demonstrar e dialogar acerca do caráter interdisciplinar desta investigação aos colegas de Lisboa. Mesmo com pouco tempo, essa oportunidade ampliou significativamente meus horizontes e fortaleceu a pesquisa de doutorado. As atividades realizadas consolidaram conexões acadêmicas importantes e abriram novas possibilidades investigativas que pretendo dar andamento. Dentre os resultados, pude aprofundar as bases teóricas a partir do uso dos recursos da Universidade NOVA de Lisboa, participar de eventos acadêmicos, sessões de cinema e elaborar novos questionamentos a serem explorados na continuidade da tese. O contato com pesquisadores e com o ambiente acadêmico diversificado proporcionou uma experiência interdisciplinar enriquecedora. E a escolha do mês de outubro foi excelente, tendo em vista que além de todas as atividades que pude acompanhar na universidade, também tive a oportunidade de vivenciar o Festival de documentários Doc Lisboa.
Incluo aqui um texto que fiz nos últimos dias em Lisboa e que li ao final de minha apresentação no dia 30/10, visando expressar quão transformadora foi essa experiência de trabalho, pesquisa e de encontros com pessoas que me acolheram e me propiciaram todas as condições para vivenciar esse período de capacitação com qualidade. Segue:
Lisboa, querida.
E, essa oportunidade de estar em solo europeu também me possibilitou concretizar um outro sonho: retornar a Roma, depois de 20 anos. Fui para Roma em 2004 e fiquei por lá durante dois meses. À época fui por um convite de minha querida tia Vera, uma mulher visionária e de um coração enorme, que sempre foi uma inspiração para mim, em especial quando eu era criança e morava com meus avós. Ela estava sempre presente nas imagens e álbuns de fotografias. A sua sagacidade com os idiomas me impressionava e também ficava muito curiosa com suas viagens a tantos lugares do mundo por conta de sua profissão. Nas imagens dos álbuns lá estava ela, minha tia jornalista, trabalhando em lugares como Israel, diversos países europeus e também no Japão, a desbravar e a conhecer o mundo, alargando horizontes outrora não imaginados nas fronteiras familiares. Em 2004 eu tinha 19 anos e vivenciar aquela cidade foi uma experiência deveras transformadora. Fiz um curso de italiano para estrangeiros e andei muito pela cidade. Na época minha tia me emprestou uma bicicleta e num movimento de quem já amava muito o cinema, me imaginava em cenas de filmes, andando sobre duas rodas naquela cidade tão bela. Minha tia também me levou para conhecer algumas cidades italianas, tal como Lucca e Montecatini. Também viajamos para Paris e Londres... foi sensacional! E a vida seguiu. A Ingrid que foi para Roma retornou outra para o Brasil... E em 2024 retornar para aquela cidade e rever minha tia Vera (não nos víamos há aproximadamente 1 década), rever meu tio Maurizzio e finalmente conhecer minha prima Barbara pessoalmente, tudo isso foi realmente muito marcante e especial. E, em minhas memórias fica registrada uma sensação muito peculiar: eu não me senti turista em Roma. Me senti revisitando uma das tantas cidades que já morei, como se aqueles dois meses de 2004 tivessem sido suficientes para amalgamar uma quantidade significativa da cidade em mim.
Profissionalmente, em 2024, vivenciei o terceiro ano no Senac, uma instituição educacional que tanto tem transformado minha trajetória. Finalizei o ano fechando esse ciclo de três anos na Gerência de Operações, pois em janeiro iniciarei um novo ciclo de trabalho compondo a equipe da unidade Lapa Scipião. Levo comigo as memórias das experiências e trocas valiosas que tive, ciente de que contribuíram muito para meu crescimento pessoal e profissional. Entrei na GO em 2022, mesmo ano que iniciei o doutorado, em um processo seletivo no qual, pelo que lembro, mais de 2 mil pessoas concorreram e apenas quatro foram aprovadas. Fiquei contente por estar entre essas quatro, inclusive porque desde 2013, todas as vezes que eu precisava buscar trabalho eu tentava o Senac. No total, até entrar na GO, foram 27 tentativas. Alguns colegas amavam contar essa história, pois me diziam relacionar-se a uma capacidade de superação e resiliência que tenho. E sim, posso dizer que essas palavras têm me acompanhado e estiveram presentes nos vários desafios deste ano...
Um ano no qual também fortaleci cada vez mais os laços com as pessoas que amo, com amigos e com novas amizades que tive o prazer de encontrar na caminhada desses 365 dias de 2024.
Algumas pessoas eu não tenho fotografias para postar aqui. Mas o que importa é ter vivido com elas as nuances desse ano. Queria mencionar o André Alcantara e a Bianca da ETEC Cepam, pessoas que foram tão próximas e tão parceiras este ano. Além disso pude conviver com familiares em momentos muito especiais.
Muito bem, muito bom!
Avante! 2025 logo vem. Que venha! E que traga muitas alegrias e realizações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário