quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Retrospectiva 2024

 


2024
 


"Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que um pássaro sem voos" (Antonio Cicero)

Um ano denso e intenso. Muitas coisas aconteceram. Muitas alegrias, muitos desafios e uma pitada de tristezas também. Aquele filme que as memórias trazem, projeta agora imagens carregadas de várias tonalidades. Dias de paz, dias d’além mar, dias marejados e dias maravilhosamente coloridos. Teve de um tudo esse ano...

Foi o terceiro ano do doutorado em Educação. Para além de dizer que estou cursando o doutorado, prefiro dizer que estou vivendo intensamente o doutorado. Tenho estudado documentários autobiográficos com uma abordagem interdisciplinar, propondo articulações entre audiovisual, arquivos e educação. Viver o doutorado é viver uma etapa muito desejada de um objetivo que tracei lá em 2013, no segundo ano de minha graduação em Gestão de Políticas Públicas na USP, pois foi naquele momento/ movimento de minha vida que entendi que seria possível aprofundar os estudos nesse nível e atrelar essa profundidade a meus movimentos profissionais. Em minha família poucas pessoas conseguiram terminar a graduação. Para mim, finalizar a graduação e seguir a vida acadêmica adiante tem sido ao mesmo tempo um sonho, um desafio e ao mesmo tempo algo fluído e também coerente com aquilo que gosto, que me faz bem, pois gosto muito de estudar, pesquisar, escrever, ensinar: esse “combo”, no qual a educação nos insere e do qual cada vez mais me vejo como uma pessoa que faz parte dele e que deseja construir melhorias que impactem positivamente as vidas das pessoas.

Por isso, mesmo com dificuldades, tendo em vista a quantidade de coisas que faço cotidianamente, mantenho-me em sala de aula, sigo a trabalhar como professora na ETEC Cepam (uma escola da qual gosto tanto e que faz parte de minha história), com apenas um componente curricular (é o que consigo no momento), mas vivenciando essa experiência de ensino e aprendizagem com uma turma de ensino médio a cada ano, turmas de terceiros anos, aquele momento da vida em que o sonho de uma carreira, atrelado à decisão do vestibular, às emoções da adolescência e à necessidade de finalizar o ensino médio são questões que estão ali, vívidas e celeremente presente naqueles 365 dias da vida daqueles jovens. É bonito ter a oportunidade de participar disso...

Falando um pouco mais do doutorado, esse ano foi realmente muito importante. É um privilégio que a oportunidade de viver essa etapa formativa esteja ocorrendo desta maneira, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS) e compartilhando essa vivência com a professora Fabiana de Amorim Marcello, uma mulher inteligente, visionária e que tanto me incentiva a olhar além e a ampliar meus horizontes, constantemente me desafiando a melhorar as entregas, a ter um olhar mais perspicaz para as coisas que penso e escrevo, fazendo dessa experiência uma composição coletiva entre orientadora e orientanda que é ao mesmo tempo carinhosa, atenciosa e carregada de aprendizados contínuos. Enfrentamos, cada uma a seu tempo: tragédias, desafios profissionais e emocionais, os quais não apenas ocorreram paralelamente à tese, mas, de outro modo, amalgamaram-se a esse processo. Viver o doutorado tem sido algo profundo, desafiador e posso dizer que a parceria com a Fabiana tem tornada essa experiência muito viva e especial.


Na banca de qualificação do doutorado, presidida pela minha orientadora Fabiana Marcello. Com os professores: Susana Viegas (Universidade NOVA de Lisboa); Ana Laura G. Lima (USP); Rodrigo Lages (UFRGS).

Em 2024 aconteceu minha qualificação no doutorado, uma etapa muito importante do processo. Também me inscrevi em cinco bolsas de estudo internacionais e fui contemplada em duas. Em outubro tive a oportunidade de vivenciar a primeira delas, fui para Lisboa realizar um período de 1 mês de formação na Universidade NOVA de Lisboa com financiamento da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Também fui aprovada para o financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) para dar continuidade a este trabalho de aprofundamento e intercâmbio por mais um mês, em fevereiro de 2025. Nos dois períodos, as atividades estão sendo desenvolvidas sob a supervisão da Professora Susana Viegas, coordenadora do projeto Film and Death: Film-philosophy as a meditation on death (A filosofia do cinema como meditação sobre a morte). 

Esse período de capacitação em Lisboa significou uma oportunidade extremamente valiosa para a pesquisa, para minha vida e para o trabalho de pesquisa que tenho construído ao longo dos anos. Desde os primeiros contatos, ainda na submissão do projeto, a professora Susana acolheu a proposta e aceitou gentilmente me receber. Ela e toda equipe do projeto Film and Death foram extremamente atenciosos e ajudaram muito comentando e trazendo contribuições. E, da mesma maneira, busquei compartilhar experiências e referências com o grupo. A apresentação da pesquisa em formato de seminário aberto ao público no dia 30/10 na Universidade NOVA de Lisboa foi um dos resultados desse primeiro período de mobilidade e me permitiu demonstrar e dialogar acerca do caráter interdisciplinar desta investigação aos colegas de Lisboa. Mesmo com pouco tempo, essa oportunidade ampliou significativamente meus horizontes e fortaleceu a pesquisa de doutorado. As atividades realizadas consolidaram conexões acadêmicas importantes e abriram novas possibilidades investigativas que pretendo dar andamento. Dentre os resultados, pude aprofundar as bases teóricas a partir do uso dos recursos da Universidade NOVA de Lisboa, participar de eventos acadêmicos, sessões de cinema e elaborar novos questionamentos a serem explorados na continuidade da tese. O contato com pesquisadores e com o ambiente acadêmico diversificado proporcionou uma experiência interdisciplinar enriquecedora. E a escolha do mês de outubro foi excelente, tendo em vista que além de todas as atividades que pude acompanhar na universidade, também tive a oportunidade de vivenciar o Festival de documentários Doc Lisboa.


Foto do prédio principal da Universidade NOVA de Lisboa. E fotografia que fiz no 1º dia no campus.

Miradas de Lisboa: da cidade, do metrô.


Foto com a Profa. Dra. Susana Viegas em frente à sala do projeto Film and Death. E foto em frente à Cinemateca Portuguesa com pesquisadores do projeto: Lucas F. Nassif, Vasco B. Marques, Susana Viegas, Marco Grosoli, Ingrid R. Gonçalves.

Entrada da sala do projeto Film and Death. Entrada do Colégio Almada Negreiros (CAN). Área externa de trabalho no CAN.



Ingrid durante a apresentação da pesquisa no Colégio Almada Negreiros, no dia 30/10/2024. Foto feita por Lucas F. Nassif.


Equipe Film and Death reunida após o seminário de apresentação da pesquisa em 30/10: Tiago Cravidão, Marco Grosoli, Vasco B. Marques, Lucas F. Nassif, Susana Viegas, Ingrid R. Gonçalves.

Incluo aqui um texto que fiz nos últimos dias em Lisboa e que li ao final de minha apresentação no dia 30/10, visando expressar quão transformadora foi essa experiência de trabalho, pesquisa e de encontros com pessoas que me acolheram e me propiciaram todas as condições para vivenciar esse período de capacitação com qualidade. Segue:

Lisboa, querida.

 
O que dizer Lisboa, querida?
O que dizer do que vivi e do que levo daqui?
Como disse o poeta brasileiro Antonio Cicero, “melhor se guarda o voo de um pássaro do que um pássaro sem voos”

Por isso, aqui voei...
Por isso, aqui encontrei algo de mim
Por um momento achei que a força expansiva atrelava-se apenas a uma adaptação à viagem, mas, compreendi que não se tratava de mera adaptação, mas de encontro.

E o que dizer do tempo?
Parece que Chronos pregou peças...
Parece que os tempos se dobraram, não apenas multiplicando-se, mas movendo forças tectônicas, desdobrando placas de forças que já estavam aqui e com o baloiço dos ventos do Tejo encontraram passagem...

Reencontrei comigo e me reconheci outra: um paradoxo?
Pois! De paradoxos é feita a vida, a pesquisa...
De movimentos paradoxais me alimento, me monto, me remonto, me desdobro em outras... em outras vidas, mesclando linguagens e temporalidades, passado, presente futuro, emaranhando-os.

Lisboa, querida... 
posso dizer que aqui vi inúmeras vezes a morte se fazer vida, cinematograficamente.
Filme, morte, vida.
A força de vida que vem da morte, isso aconteceu em alguns filmes, e, em algumas conversações.

Mas e na prática? O que morreu em mim e o que está a nascer?
Com certeza há algo...
Quiçá, algures.

 E, essa oportunidade de estar em solo europeu também me possibilitou concretizar um outro sonho: retornar a Roma, depois de 20 anos. Fui para Roma em 2004 e fiquei por lá durante dois meses. À época fui por um convite de minha querida tia Vera, uma mulher visionária e de um coração enorme, que sempre foi uma inspiração para mim, em especial quando eu era criança e morava com meus avós. Ela estava sempre presente nas imagens e álbuns de fotografias. A sua sagacidade com os idiomas me impressionava e também ficava muito curiosa com suas viagens a tantos lugares do mundo por conta de sua profissão. Nas imagens dos álbuns lá estava ela, minha tia jornalista, trabalhando em lugares como Israel, diversos países europeus e também no Japão, a desbravar e a conhecer o mundo, alargando horizontes outrora não imaginados nas fronteiras familiares. Em 2004 eu tinha 19 anos e vivenciar aquela cidade foi uma experiência deveras transformadora. Fiz um curso de italiano para estrangeiros e andei muito pela cidade. Na época minha tia me emprestou uma bicicleta e num movimento de quem já amava muito o cinema, me imaginava em cenas de filmes, andando sobre duas rodas naquela cidade tão bela. Minha tia também me levou para conhecer algumas cidades italianas, tal como Lucca e Montecatini. Também viajamos para Paris e Londres... foi sensacional! E a vida seguiu. A Ingrid que foi para Roma retornou outra para o Brasil... E em 2024 retornar para aquela cidade e rever minha tia Vera (não nos víamos há aproximadamente 1 década), rever meu tio Maurizzio e finalmente conhecer minha prima Barbara pessoalmente, tudo isso foi realmente muito marcante e especial. E, em minhas memórias fica registrada uma sensação muito peculiar: eu não me senti turista em Roma. Me senti revisitando uma das tantas cidades que já morei, como se aqueles dois meses de 2004 tivessem sido suficientes para amalgamar uma quantidade significativa da cidade em mim.





Algumas fotos em Roma

Profissionalmente, em 2024, vivenciei o terceiro ano no Senac, uma instituição educacional que tanto tem transformado minha trajetória. Finalizei o ano fechando esse ciclo de três anos na Gerência de Operações, pois em janeiro iniciarei um novo ciclo de trabalho compondo a equipe da unidade Lapa Scipião. Levo comigo as memórias das experiências e trocas valiosas que tive, ciente de que contribuíram muito para meu crescimento pessoal e profissional. Entrei na GO em 2022, mesmo ano que iniciei o doutorado, em um processo seletivo no qual, pelo que lembro, mais de 2 mil pessoas concorreram e apenas quatro foram aprovadas. Fiquei contente por estar entre essas quatro, inclusive porque desde 2013, todas as vezes que eu precisava buscar trabalho eu tentava o Senac. No total, até entrar na GO, foram 27 tentativas. Alguns colegas amavam contar essa história, pois me diziam relacionar-se a uma capacidade de superação e resiliência que tenho. E sim, posso dizer que essas palavras têm me acompanhado e estiveram presentes nos vários desafios deste ano...


Algumas fotos com a equipe GO ao longo do ano, na festa de confraternização e no almoço organizado para minha despedida:

Algumas fotos com a equipe GO ao longo do ano. Foto1: Eliete, Anna Minela, Fernanda, Sandra V, Fernando, Luciana, Ana Paula, Luiz Felipe. Foto 2: Priscila, Jefferson, Bela. Foto 3: Paulo, Maria Paula, Marcela, Ligia, Michele. Foto 4: Tania, Adriana, Patricia.

Foto 1: almoço organizado para minha despedida/ encerramento de ciclo de trabalho: na mesa 25 pessoas da equipe GO. Foto 2: com os três gerentes de operação: Paulo, Tatiana, Mauricio.

Algumas fotos com a equipe GO. Foto 1: com meu gerente Mauricio. Foto2: equipe GO na festa de confraternização. Foto 3: Com a Anna Minela e a linda aquarela que ela me deu de presente (ameeeeei!!). Foto 4: Com a Michelle Nascimento, com quem trabalhei em diversos projetos nesses 3 anos. Foto5: Com o Felipe, que foi meu coordenador em diversos grupos de trabalho na GO.

Esse ano foi o segundo ano da terapia, um processo que tem sido muito importante para mim. Acho que todo mundo deveria fazer, de algum modo... e mesmo que não possa pagar, ao menos reservar momentos periódicos para pensar em sua própria vida, reorganizar e refletir sobre os acontecimentos, os fluxos, os processos, de modo amplo e específico. Acho que isso é muito bom... ao menos para mim, tem sido excelente...

Percebi agora que não tenho fotos com minha terapeuta. Essa aqui é na sala de espera, num sábado de 2024, aguardando meu horário e fazendo fotos para passar o tempo.

Um ano no qual também fortaleci cada vez mais os laços com as pessoas que amo, com amigos e com novas amizades que tive o prazer de encontrar na caminhada desses 365 dias de 2024.

Com minha querida Valéria 💕

Com Fabiola e Rose

No almoço organizado antes de eu viajar para Lisboa, com as queridasValéria, Silvia, Luciana, Rose e Fabiola.

Os queridos Ranieri e Bruno, que me receberam tão bem em sua casa em Lisboa 

Em Lisboa, no jantar organizado pelo Bruno e pelo Ranieri para minha despedida, antes de eu voltar ao Brasil. Na foto: eu, Ranieri, Iracema, Bruno e Antonio.

A Bebel, amiguinha-gata que conheci em Lisboa e que todos os dias queria brincar, uma querida 😸

A querida Cristina, que conheci em Lisboa e foi tão gentil desde o primeiro dia que cheguei em por lá

Com a Erika Caracho Ribeiro, à época diretora da ETEC Cepam.

Com a querida Silvia Craveiro.

Com querida a Luciana: dia que saímos para um café de despedida (um bota fora rsrs) poucos dias antes de eu viajar para Lisboa.


Com as queridas Valéria, Regia e Eunice.


Com o Edwin, que foi meu professor lá no início dos anos 2000, na minha primeira graduação (não concluída) de Comunicação Social (Rádio e TV). Muito bom revê-lo em setembro deste ano.

Com a Lilian, que era doutoranda na FEUSP quando eu estava cursando o mestrado. Muito bom revê-la depois de alguns anos. Foto de setembro/2024.

Com o Rafael, que calhou de estar em Lisboa por alguns dias, no mesmo período que eu. E que, vale dizer, nesse dia me ajudou a levar a mochila pesada para casa, pois estava cheia de livros que eu tinha emprestado da biblioteca da NOVA.


E por falar em biblioteca... Eu nesse mesmo dia, na Biblioteca Professor Vitorino Magalhães Godinho (Colégio Almada Negreiros - Universidade NOVA de Lisboa)

Com Susana e Sergio, passeando em Sintra. Na subida para chegar no Castelo dos Mouros.


E por falar em Castelo dos Mouros... nossa, que passeio interessante, que dia tão tão legal!! Muito giro!!

Lá no castelo...


Algumas pessoas eu não tenho fotografias para postar aqui. Mas o que importa é ter vivido com elas as nuances desse ano. Queria mencionar o André Alcantara e a Bianca da ETEC Cepam, pessoas que foram tão próximas e tão parceiras este ano. Além disso pude conviver com familiares em momentos muito especiais.

Muito bem, muito bom! Avante! 2025 logo vem. Que venha! E que traga muitas alegrias e realizações.

 


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domingo, 24 de novembro de 2024

Mobilidade internacional para a pesquisa de doutorado (International mobility for PhD research)

 



Em outubro de 2024, tive a oportunidade de realizar um período de 1 mês de formação na Universidade NOVA de Lisboa pois fui a estudante selecionada pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS) para obter o financiamento CAPES-PRINT, da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (agência do governo federal brasileiro de fomento à pesquisa) e realizar um período internacional de minha pesquisa de doutorado. No mês de fevereiro de 2025, terei a oportunidade de retornar à Lisboa, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) para dar continuidade a este trabalho de aprofundamento e intercâmbio internacional da pesquisa. Nos dois períodos, desenvolverei as atividades sob a supervisão da Professora Susana Viegas, coordenadora do projeto Film and Death: Film-philosophy as a meditation on death (A filosofia do cinema como meditação sobre a morte). Tenho estudado documentários autobiográficos com uma abordagem interdisciplinar, propondo articulações entre audiovisual, arquivos e educação. O período dessa mobilidade me propiciará uma experiência internacional como doutoranda do PPGEdu/UFRGS, bem como um intercâmbio de ideias, experiências e bibliografias, oportunizando o aprofundamento de debates teóricos, bem como a excelência, a qualidade e a inovação desta investigação. 


Foto com a Profa. Dra. Susana Viegas em frente à sala do projeto Film and Death.


Foto em frente à Cinemateca Portuguesa com pesquisadores do projeto: Lucas F. Nassif, Vasco B. Marques, Susana Viegas, Marco Grosoli, Ingrid R. Gonçalves.


Ingrid durante a apresentação da pesquisa no Colégio Almada Negreiros, no dia 30/10/2024. Foto feita por Lucas F. Nassif.


Equipe Film and Death reunida após o seminário de apresentação da pesquisa em 30/10: Tiago Cravidão, Marco Grosoli, Vasco B. Marques, Lucas F. Nassif, Susana Viegas, Ingrid R. Gonçalves.



LINKS:

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In October 2024, I had the opportunity to do a one-month training period at NOVA University of Lisbon. I was the student selected by the Graduate Program in Education at Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS) to obtain CAPES-PRINT funding from Brazilian Federal Agency for Suport and Evaluation of Graduate Education (a Brazilian federal government agency that supports research) and do an international period of my doctoral research. In February 2025, I will have the opportunity to return to Lisbon, with funding from the Foundation for Research Support of the State of Rio Grande do Sul (FAPERGS), to continue this work. During both periods, I will be working under the supervision of Professor Susana Viegas, coordinator of the Film and Death: Film-philosophy as a meditation on death project. I have been studying autobiographical documentaries with an interdisciplinary approach, proposing links between audiovisual, archives and education. The period of this mobility will provide me with an international experience as a PhD student at PPGEdu/UFRGS, as well as an exchange of ideas, experiences and bibliographies, making it possible to deepen theoretical debates, as well as the excellence, quality and innovation of this research. 


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quinta-feira, 13 de junho de 2024

[Texto publicado] Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades

 

Imagem que fiz em 2011, que compõe o ensaio fotográfico simbiOlhO;(se...).

Acaba de ser publicado o texto Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades, escrito em parceria com a Valéria Cazetta, na Revista Leitura: Teoria & Prática.


Esse texto é fruto de um longo processo, pois a inquietação que culminou nessa produção escrita iniciou em 2011, quando fiz uma viagem a trabalho para o Piauí para participar de um festival de cinema e representar um documentário no qual trabalhei chamado Cinema de Guerrilha, do Evaldo Mocarzel, realizado no contexto das Oficinas Kinoforum de Realização Audiovisual, uma oficina de cinema da Associação Cultural Kinoforum, projeto do qual fui aluna e no qual trabalhei em diversas ocasiões entre 2004 e 2014.

Nessa viagem fiz muitas fotografias da estrada, em diferentes horários. Inicialmente com um olhar curioso de quem está passeando por paisagens nunca vistas, de quem está num movimento da vida de querer conhecer e experimentar novos horizontes. 

Dessa maneira fui me embrenhando naquela viagem. Entre um compromisso e outro eu registrava paisagens, pessoas, entradas de cidades, placas de sinalização e, o que mais me fascinou: o movimento dessas idas e vindas, o qual ia ficando cada vez mais marcado e mais abstrato nas linhas dessas imagens, dessas "foto-grafias", como as chamamos no texto ora publicado. As fotos noturnas feitas na estrada entre Floriano e Teresina - desde a visão de passageira de um carro em movimento - delinearam uma outra relação com aquela estrada. Uma relação feita de apostas imagéticas, pois não me era possível repetir, apenas podia ver e compor registros únicos. Acoplei meu corpo à câmera e ao carro naquele movimento ininterrupto e silencioso. Um silêncio que gritava em imagens, que grafava imageticamente os rastros coloridos daquela dança.

Anos depois (acho que em 2017 ou 18) precisei escrever um texto para um trabalho de uma disciplina do mestrado, cuja demanda implicava a análise de algum conjunto imagético. Lembrei-me dessas fotos e fiz uma primeira versão desse texto. 

Mais alguns anos se passaram e esses escritos viraram aquilo que chamamos de "texto de gaveta". 
- Ah um dia ainda vou publicar... 
E o tempo foi passando... 
E o texto seguia lá, na pilha de letras a me aguardar na tal "gaveta"...

Tentei publicar novamente, mas a avaliação do periódico considerou o texto "fora do escopo". Experimental demais... ok... de volta para a gaveta...

Chegamos em 2021. A imagem que abre essa postagem ganhou o mundo de uma outra forma, pois compôs o cartaz de divulgação do evento O Ambiente Escolar em Transformação, organizado por Ana Laura Godinho Lima (IEA e FE USP), Valéria Cazetta (IEA e EACH USP), pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Vale mencionar que os trabalhos apresentados nesse evento depois compuseram um livro, publicado em 2022 pela Editora Alínea.



E o texto seguia na gaveta, mas querendo sair... 
Então, nesse mesmo ano, eu e Valéria unimos forças. Ela deu seu toque no texto visando recompor e tentar pensar o que poderia ser melhorado, pois depois de tantas idas e vindas eu já não sabia muito bem como tirar de vez esse trabalho do fundo da gaveta. Assim, conversamos sobre o texto e fizemos uma reescrita breve que resultou em uma versão em resumo extendido apresentada no VI Colóquio Internacional “A educação pelas imagens e suas geografias”, em Campinas (Unicamp), no início de novembro de 2021.

Chegamos em 2024, voltamos a trabalhar no texto, dessa vez visando uma versão completa para submissão na Revista Leitura: Teoria & Prática. E aqui está o resultado: texto publicado na última edição da revista, no dossiê Leituras por entre Imagens e Geografias

Ao tomar contato com a proposta do dossiê e após ver todo o conjunto de trabalhos publicados, ficamos pensando em como esse processo longo de escrita e reescrita, entremeado por tantas idas e vindas enriqueceu a proposta que abordamos. Coisas sobre as quais tenho pensado há tantos anos que ganharam muito mais força e contornos quando resolvemos unir forças para fazer essa versão ora publicada. 

Eu e Valéria estamos muito contentes em finalmente sacudir essa poeira da gaveta e ter a oportunidade de compartilhar esse texto em grande estilo! Em um dossiê que justamente demandou trabalhos experimentais e que buscassem outras leituras do mundo: que tomassem a rebeldia das leituras por entre imagens, geografias e educação como motes de composição. 

Aqui está!
Aqui estamos. 
Compondo uma proposta de "leitura-geografia" que primeiro experimentou o espaço daquela estrada noturna entre Floriano e Teresina em 2011 e, posteriormente, entre 2017 e 2024, compôs um trajeto peculiar de escrita, experimentando um jeito de ler as imagens, de pensar e de dispor o texto, bem como de articular e correlacionar conceitos. 

  • 2011: Uma captura imagética que dançou com as luzes daquela estrada noturna.
  • 2017 - 2024: Um processo longo de escrita e reescrita que buscou dançar com as imagens de outrora e com o tilintar dos dedos do presente, compondo com os rastros daquelas foto-grafias e vertendo letras na tela branca. 
  • 2024: Um convite para ler, dançar e pensar de uma outra maneira as imagens, geografias e educação ao compor esse dossiê Leituras por entre Imagens e Geografias


Para acessar o dossiê completo: clique aqui.

Para acessar apenas o nosso texto: clique aqui.





Imagem do ensaio fotográfico simbiOlhO;(se...) que fiz em 2011.


Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades

Resumo: Objetivamos, neste ensaio, apresentar uma experiência fotográfica em torno da ideia de duração, objetivada por meio de enquadramentos fotográficos que embaralharam o tempo do obturador da máquina fotográfica, transformando um dado espaço percorrido em grafias de luzes e sombras. A problemática a ser confrontada diz respeito a um jeito de fotografar  que  transformou  as  estradas  e  suas  linhas  retas  em  uma  mistura  de  espaços  e  tempos, materializados numa experiência estética-política, que clama por uma legibilidade menos afeita a representar algo ou alguma coisa, e mais disposta a camerar um tempo-es-paço dançarino. Nossa hipótese de trabalho é que ao nos dispormos a fotografar e a ler o que fotografamos, deslocando a alteridade para fora de uma subjetividade individualizada, tomamos o próprio deslocamento geográfico como o outro dessa experiência. Dentre as conclusões do texto, destaca-se o efeito das espacialidades nos corpos e vice-versa, não no sentido de um determinismo geográfico, mas de agenciamentos entre um e outro. 

Palavras-chave: Educação; geografia; alteridade; fotografia; deslocamento. 


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Sobre as autoras:

 
Ingrid Rodrigues Gonçalves
Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS). Bacharel em Gestão de Políticas Públicas pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades, e Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Culturas Visuais (Miragem/USP). 



Valéria Cazetta
É professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP). É licenciada em Geografia (1998), mestre (2002) e doutora (2005) pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É livre-docente (2022) na área de Ciências Humanas e Artes pela EACH-USP. Pesquisadora contemplada no Edital Sabático 2020, do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) em parceria com a Pró-reitoria de Pesquisa, com o projeto "A Tatuagem no Brasil: Trajetórias e Tendências de uma Prática". Participou dos projetos de pesquisa interinstitucionais: "Imagens, geografias e educação", desenvolvido com financiamento do CNPq, e "As telas da Escola: cinema e professores de geografia". Colaborou no projeto "Identidades docentes e culturas profissionais", com financiamento da FAPESP. É membro da Rede Internacional de Pesquisa "Imagens, geografias e educação" (www.geoimagens.net). Coordena o Grupo de Pesquisas Interdisciplinares em Culturas Visuais, certificado pelo Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. É credenciada no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Universidade de São Paulo (USP), desenvolvendo trabalhos de pesquisa multidisciplinares, na fronteira entre imagens (tatuagens, fotografias, audiovisual e cartografia), estudos culturais, geografias e educação. (Fonte: Currículo Lattes)
 


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sábado, 22 de julho de 2023

Uma noite na cinemateca: memórias, cinema, amizade e poesia

 

Cinemateca, sua linda! 💟

Ontem fui até a Cinemateca prestigiar a exibição do filme Se Trans For Mar, dirigido pela amiga querida Cibele Appes, cujo trabalho acompanho há vários anos, desde que nos conhecemos nas Oficinas Kinoforum em meados da primeira década dos anos 2000. Assistir a um filme da Cibele já seria motivo para tornar a noite de ontem especial, mas, além disso, ver os outros filmes que compuseram a sessão, e pelo fato de tudo isso ter acontecido na Cinemateca, trouxe mais alegria ainda a esse momento.

Quando cheguei ao Largo Senador Raul Cardoso, minha primeira reação, antes de entrar, foi ir até o outro lado da rua e olhar a Cinemateca de um ângulo mais amplo, vislumbrando a chegada do desfile de memórias que me atravessa sempre que vou até lá. Trabalhei ali entre 2009 e 2013, quando, por decisões políticas que até hoje não compreendo, a Secretaria do Audiovisual resolveu promover uma demissão em massa...

Cinemateca Brasileira: área de projeção externa.

A vida virou-se e revirou-se, busquei outros caminhos, muitas coisas aconteceram, mas sempre que vou até lá todas essas memórias retornam com uma força espetacular. Há quem diga que um espaço como aquele, que outrora já foi o Matadouro Municipal de São Paulo, é capaz de imprimir uma marca profunda em quem o frequenta. No caso, entendo isso não como aquelas marcas com ferro quente que o gado carregava, mas, de outro modo, como um sincero amor ao cinema, à sua preservação, às memórias que ali são preservadas e projetadas. Também há a efervescência das novas descobertas que aquele espaço possibilita, como por exemplo, fazendo uma sessão como a de ontem com vários curtas-metragens de jovens produtores selecionados a dedo. Poesia em estado puro.

Cinemateca Brasileira: cabine de projeção da sala Grande Otelo

O bichinho do cinema me picou, me mordeu... e ainda deixou um pedacinho para a sobremesa...

Cinemateca Brasileira: projetor 35mm

Ao dizer isso também lembro do Sandro, meu amigo projecionista da Cinemateca que conduziu ontem a sessão. “Você pode até demorar para vir aqui na Cinemateca, mas não adianta, a Cinemateca te mordeu, ela morde a gente, principalmente quando a gente trabalha aqui... já era!”. A gente começou a conversar e os assuntos não acabavam, entre memórias e composições de ideias novas... aliás, convido quem não viu, a assistir ao curta Balé Mecatrônico, que fizemos juntos, visando manter vivo o trabalho que desenvolvemos, naqueles anos em que trabalhamos juntos, período em que trabalhei como gerente daquelas salas de cinema. Clique aqui para assistir no YouTube.

Sandro, o olhar do cinema nos observando atentamente e eu.

Falando um pouco mais do filme da Cibele. Percebo que uma sementinha imagética, uma fagulha que notei lá no início dos anos 2000, quando vi as montagens dela pela primeira vez nos filmes das oficinas, essa sementinha está cada vez mais sofisticada. O que quero dizer com isso? Há momentos de suspensão nos filmes da Cibele. Há momentos em que somos transportados a uma dança imagética a qual só podemos ver ali, na tela, não adianta eu tentar descrever muito em texto... é algo próprio do concatenar das imagens e sonoridades, algo que mesmo estando aqui na nossa vidinha cotidiana, ao mesmo tempo não está, um sopro, um suspiro, um sonho. Ela inclusive disse no debate que tem apostado em uma ideia de cinema sonho. Falamos bastante sobre isso depois da sessão, dessa potência do sonhar, de como isso está aqui no tecido de nossos dias, de como é importante o cinema ter coragem de expor isso... e ela reforçou que para ela é muito importante compor dessa forma.

Cibele Appes e o cinema sonho: em debate da sessão Cabíria

Fazia um tempo que eu não acompanhava de pertinho cada lançamento dela. Imersa na correria dos dias, tive uma surpresa boa quando ela me mandou o link do trailer. De alguma forma, seguindo os links, cheguei em outros trabalhos dela que eu ainda não tinha visto. Nossa Voz Ecoa foi seu último trabalho que vi com mais detalhes, até compartilhei com a turma da Etec Cepam, em que lecionava à época. Mas depois dessa websérie seguiram-se vários outros. Vi como
seu portifólio está recheado de imagens. Orgulho ver tudo isso, ver alguém que você acompanha produzindo trabalhos tão bonitos, tão poéticos e vários deles em parceria com sua irmã e sua mãe, duas queridas e super talentosas em tudo que fazem.

Isis Appes, eu, Cibele Appes

A memória não diz respeito ao passado, apenas, mas está atrelada à composição de nosso presente. E as amizades permanecem pulsantes, mesmo que a gente passe um tempo sem se ver, quando os reencontros acontecem, toda a força e carinho que temos por essas pessoas voltam. Por isso foi tão bom ter esses encontros e reencontros ontem.💜

E sobre esse carinho, essa relação afetiva com a Cinemateca, lembrei-me de um trecho do livro Ver e Poder do Comolli: “Para nós, jovens espectadores dos anos de 1950 e 1960, as salas de cinema eram nossas salas de aula, a cinemateca, nossa universidade”. Nos “anos 2000”, a Cinemateca Brasileira também foi como uma universidade para mim...