quinta-feira, 13 de junho de 2024

[Texto publicado] Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades

 

Imagem que fiz em 2011, que compõe o ensaio fotográfico simbiOlhO;(se...).

Acaba de ser publicado o texto Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades, escrito em parceria com a Valéria Cazetta, na Revista Leitura: Teoria & Prática.


Esse texto é fruto de um longo processo, pois a inquietação que culminou nessa produção escrita iniciou em 2011, quando fiz uma viagem a trabalho para o Piauí para participar de um festival de cinema e representar um documentário no qual trabalhei chamado Cinema de Guerrilha, do Evaldo Mocarzel, realizado no contexto das Oficinas Kinoforum de Realização Audiovisual, uma oficina de cinema da Associação Cultural Kinoforum, projeto do qual fui aluna e no qual trabalhei em diversas ocasiões entre 2004 e 2014.

Nessa viagem fiz muitas fotografias da estrada, em diferentes horários. Inicialmente com um olhar curioso de quem está passeando por paisagens nunca vistas, de quem está num movimento da vida de querer conhecer e experimentar novos horizontes. 

Dessa maneira fui me embrenhando naquela viagem. Entre um compromisso e outro eu registrava paisagens, pessoas, entradas de cidades, placas de sinalização e, o que mais me fascinou: o movimento dessas idas e vindas, o qual ia ficando cada vez mais marcado e mais abstrato nas linhas dessas imagens, dessas "foto-grafias", como as chamamos no texto ora publicado. As fotos noturnas feitas na estrada entre Floriano e Teresina - desde a visão de passageira de um carro em movimento - delinearam uma outra relação com aquela estrada. Uma relação feita de apostas imagéticas, pois não me era possível repetir, apenas podia ver e compor registros únicos. Acoplei meu corpo à câmera e ao carro naquele movimento ininterrupto e silencioso. Um silêncio que gritava em imagens, que grafava imageticamente os rastros coloridos daquela dança.

Anos depois (acho que em 2017 ou 18) precisei escrever um texto para um trabalho de uma disciplina do mestrado, cuja demanda implicava a análise de algum conjunto imagético. Lembrei-me dessas fotos e fiz uma primeira versão desse texto. 

Mais alguns anos se passaram e esses escritos viraram aquilo que chamamos de "texto de gaveta". 
- Ah um dia ainda vou publicar... 
E o tempo foi passando... 
E o texto seguia lá, na pilha de letras a me aguardar na tal "gaveta"...

Tentei publicar novamente, mas a avaliação do periódico considerou o texto "fora do escopo". Experimental demais... ok... de volta para a gaveta...

Chegamos em 2021. A imagem que abre essa postagem ganhou o mundo de uma outra forma, pois compôs o cartaz de divulgação do evento O Ambiente Escolar em Transformação, organizado por Ana Laura Godinho Lima (IEA e FE USP), Valéria Cazetta (IEA e EACH USP), pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP). Vale mencionar que os trabalhos apresentados nesse evento depois compuseram um livro, publicado em 2022 pela Editora Alínea.



E o texto seguia na gaveta, mas querendo sair... 
Então, nesse mesmo ano, eu e Valéria unimos forças. Ela deu seu toque no texto visando recompor e tentar pensar o que poderia ser melhorado, pois depois de tantas idas e vindas eu já não sabia muito bem como tirar de vez esse trabalho do fundo da gaveta. Assim, conversamos sobre o texto e fizemos uma reescrita breve que resultou em uma versão em resumo extendido apresentada no VI Colóquio Internacional “A educação pelas imagens e suas geografias”, em Campinas (Unicamp), no início de novembro de 2021.

Chegamos em 2024, voltamos a trabalhar no texto, dessa vez visando uma versão completa para submissão na Revista Leitura: Teoria & Prática. E aqui está o resultado: texto publicado na última edição da revista, no dossiê Leituras por entre Imagens e Geografias

Ao tomar contato com a proposta do dossiê e após ver todo o conjunto de trabalhos publicados, ficamos pensando em como esse processo longo de escrita e reescrita, entremeado por tantas idas e vindas enriqueceu a proposta que abordamos. Coisas sobre as quais tenho pensado há tantos anos que ganharam muito mais força e contornos quando resolvemos unir forças para fazer essa versão ora publicada. 

Eu e Valéria estamos muito contentes em finalmente sacudir essa poeira da gaveta e ter a oportunidade de compartilhar esse texto em grande estilo! Em um dossiê que justamente demandou trabalhos experimentais e que buscassem outras leituras do mundo: que tomassem a rebeldia das leituras por entre imagens, geografias e educação como motes de composição. 

Aqui está!
Aqui estamos. 
Compondo uma proposta de "leitura-geografia" que primeiro experimentou o espaço daquela estrada noturna entre Floriano e Teresina em 2011 e, posteriormente, entre 2017 e 2024, compôs um trajeto peculiar de escrita, experimentando um jeito de ler as imagens, de pensar e de dispor o texto, bem como de articular e correlacionar conceitos. 

  • 2011: Uma captura imagética que dançou com as luzes daquela estrada noturna.
  • 2017 - 2024: Um processo longo de escrita e reescrita que buscou dançar com as imagens de outrora e com o tilintar dos dedos do presente, compondo com os rastros daquelas foto-grafias e vertendo letras na tela branca. 
  • 2024: Um convite para ler, dançar e pensar de uma outra maneira as imagens, geografias e educação ao compor esse dossiê Leituras por entre Imagens e Geografias


Para acessar o dossiê completo: clique aqui.

Para acessar apenas o nosso texto: clique aqui.





Imagem do ensaio fotográfico simbiOlhO;(se...) que fiz em 2011.


Deslocar e fotografar: as geografias e suas alteridades

Resumo: Objetivamos, neste ensaio, apresentar uma experiência fotográfica em torno da ideia de duração, objetivada por meio de enquadramentos fotográficos que embaralharam o tempo do obturador da máquina fotográfica, transformando um dado espaço percorrido em grafias de luzes e sombras. A problemática a ser confrontada diz respeito a um jeito de fotografar  que  transformou  as  estradas  e  suas  linhas  retas  em  uma  mistura  de  espaços  e  tempos, materializados numa experiência estética-política, que clama por uma legibilidade menos afeita a representar algo ou alguma coisa, e mais disposta a camerar um tempo-es-paço dançarino. Nossa hipótese de trabalho é que ao nos dispormos a fotografar e a ler o que fotografamos, deslocando a alteridade para fora de uma subjetividade individualizada, tomamos o próprio deslocamento geográfico como o outro dessa experiência. Dentre as conclusões do texto, destaca-se o efeito das espacialidades nos corpos e vice-versa, não no sentido de um determinismo geográfico, mas de agenciamentos entre um e outro. 

Palavras-chave: Educação; geografia; alteridade; fotografia; deslocamento. 


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Sobre as autoras:

 
Ingrid Rodrigues Gonçalves
Doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEdu/UFRGS). Bacharel em Gestão de Políticas Públicas pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades, e Mestra em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, ambos pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Culturas Visuais (Miragem/USP). 



Valéria Cazetta
É professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade de São Paulo (USP). É licenciada em Geografia (1998), mestre (2002) e doutora (2005) pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). É livre-docente (2022) na área de Ciências Humanas e Artes pela EACH-USP. Pesquisadora contemplada no Edital Sabático 2020, do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) em parceria com a Pró-reitoria de Pesquisa, com o projeto "A Tatuagem no Brasil: Trajetórias e Tendências de uma Prática". Participou dos projetos de pesquisa interinstitucionais: "Imagens, geografias e educação", desenvolvido com financiamento do CNPq, e "As telas da Escola: cinema e professores de geografia". Colaborou no projeto "Identidades docentes e culturas profissionais", com financiamento da FAPESP. É membro da Rede Internacional de Pesquisa "Imagens, geografias e educação" (www.geoimagens.net). Coordena o Grupo de Pesquisas Interdisciplinares em Culturas Visuais, certificado pelo Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil. É credenciada no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais da Universidade de São Paulo (USP), desenvolvendo trabalhos de pesquisa multidisciplinares, na fronteira entre imagens (tatuagens, fotografias, audiovisual e cartografia), estudos culturais, geografias e educação. (Fonte: Currículo Lattes)
 


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